quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Comentários do meu amigo-leitor João Ferreira, que escreve lindamente.





             Lucilene

          Gosto imenso de ler tuas crônicas. Ao lê-las sinto a bruxaria tecelã enredando, sublimando, engrandecendo, elevando. Dá-me a impressão de te ver sentada num tear matricial onde controlas os fios com que vais tecendo a narração. Um fio daqui, outro dali. As pontas rapidamente se transformam em sujeitos e personagens. Em pouco tempo a linguagem é toda movimento. Ao leme há sempre um sujeito-autor comandando o sujeito- narrador que é sempre a mulher. Mulher que é arquétipo, gênero, indivíduo, ente ficcional, ente real, ente desenhado, mulher eterna e mulher... até biodegradável... Tudo o mais que sai deste tear matricial e mulherial é fio para tecer imagens, personagens móveis, possíveis, personagens decaídas, decadentes, personagens divinas, elevadas, personagens de desejo e personagens de vida real. A crônica plástica usa tintas variadas e exige talento para pintar quadros destes. A Lucilene Machado ora é tecelã, ora pintora, ora mulher, mas nunca deixa de ser escritora. Eu leio suas crônicas, Lucilene, e devo reconhecer que fico enleado com a plasticidade literária de seus textos. Você sabe costurar. Costurar palavras não é fácil. Fazer literatura é conseguir a transição da palavra comum e pesada do dicionário para o nível literário, metafórico e ágil da linguagem. É uma tarefa que exige talento. A Lucilene tem este talento. Por isso fala até da mulher biodegradável. Em seu texto, as palavras se atrelam, se erguem, se definem, se acoplam, fazem sentidos, arrastam, criam relações com arquétipos e sentidos como se fosse a própria linguagem semiótica. Em sua prosa há sempre um sujeito, que é a mulher. Todo o resto são fragrâncias, são rendas, são pinturas, arquiteturas, músicas. A mulher irradia e à volta dela criam-se cintilações, iluminações. Há bailes e festas, há movimento. A mulher os conduz. Há amores: a mulher os tece. Há ódios ou suspeitas: a mulher os contorna. Literatura é isto. Imaginação criadora.






Beijos. João Ferreira

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